sábado, 26 de junho de 2010

Cemitério Municipal de Jaú - patrimônio cultural ameaçado

Publicada pela primeira vez em 29 de março de 2009. O Patrimônio Histórico de Jaú ainda ameaçado pela falta de vagas para enterros recentes.

Um descaso com a memória coletiva de Jaú.
Imagens gravadas em 26 de junho de 2010, antes do jogo Brasil x Portugal pela Copa do Mundo

Este túmulo destruído...

...era assim antes.





Por detrás da aparência triste dos cemitérios, principalmente os mais antigos, escondem-se verdadeiras galerias de arte ao céu aberto. Em países como a França e Argentina alguns cemitérios são pontos turísticos que atraem viajantes do mundo inteiro, como por exemplo, os Cemitérios de Père Lachaise (Paris) e da Recoleta (Buenos Aires). Recentemente a cidade de São Paulo criou a possibilidade de visitas monitoradas para o Cemitério da Consolação.

Na arquitetura tumular representam-se os hábitos das famílias que tratam de suas capelas e túmulos como se fossem prolongamentos de suas próprias casas, levando para os jazigos os mesmos arranjos decorativos que o seu nível cultural e social lhes permite refletir.
O ideal de vida da elite brasileira neste contexto histórico era a imitação dos hábitos europeus da arquitetura, moda, festas, convenções e também dos sepultamentos e ornamento dos túmulos. Acreditava-se que esse pensamento conferia à sociedade jauense o ar cosmopolita, moderno e intelectual esmeradamente almejado. Os cemitérios, também possuem uma simbologia toda própria que é de conformidade com o contexto histórico da época.

Em Jaú, dona de um dos poucos acervos de arte cemiterial do Estado de São Paulo, a preocupação com o patrimônio cultural segue o ritmo destrutivo em que parou a administração anterior quando a questão é o Cemitério Municipal.



Visitando a parte mais antiga neste último sábado, constatei que foram destruídos alguns túmulos antigos e que outros tantos foram marcados com um "x", aguardavam o mesmo fim. Nestes túmulos marcados encontram-se sepultados imigrantes italianos e espanhóis, e também pessoas pertencentes a importantes famílias jauenses do passado.




O que estão esperando para construir um novo cemitério?

Do Jornal da Cidade - Bauru em 07/11/2008
Cemitério de Jaú vai ganhar mais espaço

Com capacidade esgotada, prefeitura muda IML e retoma antigos túmulos de famílias que não têm mais descendentes

Rita de Cássia Cornélio

O único cemitério municipal de Jaú (47 quilômetros de Bauru) vai ganhar mais espaço com a mudança do IML (Instituto Médico Legal) e com a retomada de alguns jazigos de famílias que não têm mais descendentes. O cemitério Ana Rosa de Paula está com sua capacidade esgotada desde 2003, ano em que foi adotada a venda consignada. Só se vende um túmulo quando há o defunto. A compra sem o morto, não é aceita. Essa estratégia visa conter as vendas antecipadas de jazigo e manter o atual cemitério até que um novo seja construído. A prefeitura ainda não tem previsão de construção. Segundo o diretor do departamento de Fiscalização e Postura da Prefeitura de Jaú, João Fernandes Coelho da Silva a retirada do IML do terreno do cemitério somada a retomada dos jazigos vão permitir que o cemitério continue ainda recebendo sepultamentos em mais dois anos e meio, se a média de mortes continuar no mesmo ritmo. “Por ano morrem 850 jauenses. Cerca de 80% deles já têm jazigos no cemitério. Aproximadamente 20% da população ainda carecem do espaço para a sepultura. São moradores que chegaram para trabalhar na lavoura de cana, especialmente os mineiros e nortistas. Essa população não se enquadra na faixa etária que mais morre; na maioria são jovens.” A ocupação de ruas antigas proporcionou a abertura de 98 novas vagas que, somadas as que serão abertas no espaço ocupado pelo IML, chegarão a 150. “Hoje temos cerca de 10 mil túmulos, entre simples, capela e jazigos.” Coelho disse que a retomada de túmulos de famílias que não têm mais descendentes no município foi uma decisão da prefeitura. “Foi publicado um decreto determinando um prazo para que essas famílias se manifestassem. Venceu o prazo e ninguém se manifestou. São túmulos de mais de 100 anos”, disse.

Ação pede construção

Em julho deste ano, o Ministério Público do Meio Ambiente, Habitação e Urbanismo entrou na Justiça com ação civil pública para garantir os direitos da população na compra de jazigo no cemitério de Jaú. Embasados em leis federais e estaduais, os promotores de Justiça Jorge Marques de Oliveira e Celso Élio Vannuzini pedem na Justiça prazo de 10 meses para a prefeitura construir um novo cemitério. Caso a nova necrópole não esteja construída nesse prazo, o MP pede uma multa mensal correspondente a R$ 50 mil. Segundo o promotor de Justiça Celso Élio Vannuzini, a ação foi contestada pela prefeitura e deve ser julgada nos próximos dias.




Passeios sobre Arte Cemiterial em Jaú





Em junho começamos as visitas monitoradas ao Cemitério municipal de Jaú, Ana Paula de Rosa. Tem sido muito receptivo o público destes passeio que em média tem-se composto por 6 a 7 pessoas.
Postarei aqui algumas fotos tiradas por Pedro Ormeleze Neto, deste primeiro passeio realizado no dia 05 de junho de 2010.
Lembramos que os passeios continuam até agosto e todos os sábados temos turma as 14:00 h. Neste caso não precisa agendamento na Secretaria de Cultura, basta comparecer ao local. A visitação é gratuita.

Agradecimentos especiais a Pedro Ormeleze Neto pelo ótimo registro fotográfico (histórico e artístico)

De volta as origens, por Maria Waldete de Oliveira Cestari

No dia 2 de junho, eu, meu marido e mais quarenta e duas pessoas, quinze delas de Jaú, iniciamos uma viagem de volta às nossas origens, às nossas raízes italianas, em um tour por algumas cidades da Itália: Roma, Assis, Veneza e Trento. Nesta última ficamos por dez dias para conhecermos bem de perto a região de onde vieram os ascendentes da grande maioria dos viajantes. No grupo havia também descendentes de vênetos, como nós, e de outras províncias italianas e todos foram recebidos como se fizessem parte de uma só família trentina.
A Província Autônoma de Trento se encontra no extremo norte da Itália, no início dos Alpes, em meio às montanhas Dolomitas. Desde a Antiguidade é uma passagem estratégica nos Alpes e nela se encontram as culturas italiana e alemã e a influência germânica pode ser notada em muitos sobrenomes, usos e costumes. Ela é mais intensa na Província Autônoma de Bolzano, que junto com a de Trento formam a Região Autônoma Trentino-Alto Adige/Südtirol.
O Trentino tem origem gaulesa e sua capital, Trento, é uma cidade importante desde o período romano, quando se chamava Tridentum, e é um dos marcos da conquista romana da Gália Cisalpina. Foi palco de disputa entre Itália e Áustria e por isso a região enfrentou muitas guerras. De 1814 até o final da Primeira Guerra Mundial ficou sob o domínio Austro-Húngaro, período em que cresceu um movimento de italianidade e nacionalismo na região.
No final do século 19, por vários motivos, entre eles a crise no setor agrário, houve uma grande imigração de trentinos para o Brasil em busca de melhores condições de vida. Calcula-se que vieram para cá trinta mil e hoje seus descendentes somam mais de três milhões, entre eles os Amancio, Angeli, Arlanch, Bauer, Bebber, Bernardi, Bertoldi, Cestari, Ciola, Coradi, Cirstofelitti, Dipietro, Ettore, Facchini, Ferraresi, Forti, Franceschi, Furlan, Gali, Giacomi, Girardelli, Laurentis, Leonardi, Lupo, Marchi, Mengon, Mosca, Mott, Negri, Orlandi, Pasqualini, Pedrini, Pegoretti, Pelegrini, Perini, Pompermayer, Pompeu, Pontalti, Recchia, Rossi, Sartori, Simioni, Spiller, Stenico, Tamanini, Trentino, Vendemiatti, Valentini, Vendrami, Zanoni, Zen, Zotelli, Zugliano.
O Trentino foi reincorporado à Itália em 10 de setembro de 1919, graças ao Tratado de Saint Germain-en-Laye. Aqueles que imigraram durante o domínio austro-húngaro eram considerados austríacos e por essa razão seus descendentes não tinham direito à cidadania italiana. Em 2000, o governo italiano concedeu o prazo de cinco anos, prorrogados por mais cinco, para que estes tivessem direito à cidadania e a requisitassem.
Nossa viagem teve muitos momentos emocionantes e desde o roteiro sugerido até apresentações especiais, ingressos a museus e tantas outras deferências foram proporcionadas pela Associazone Trentini nel Mondo, que nasceu em 1957 e é um instrumento de agregação para os imigrantes. Fomos recebidos pelo presidente Alberto Tafner, que prestou homenagem aos Circolos Trentini di Jaú, Piracicaba e Santa Olímpia; por Maurizio Tomasi, diretor da revista Trentini nel Mondo e por Débora e Laura, filhas de Rino Zandonai, que veio ao Brasil em 2009 como presidente da Associazone para fazer uma doação às vítimas das enchentes em Santa Catarina e morreu no acidente da Air France. Em vários momentos tivemos conosco a presença de Antonella Giordani (vereadora da cidade de Izera) e Martina Sartori, ambas do Servizio Emigrazione Provincia di Trento. Fazia parte de nosso grupo de viagem, Dr. José Eraldo Stenico, representante da Associazone Trentini nel Mondo no Brasil, Consultor da Provincia Autonoma di Trento para o Brasil Centro e Norte e presidente do Circolo Trentino de Piracicaba.
As belezas naturais dos vales, lagos, montes, vegetação; a paisagem montanhosa, os inúmeros castelos, as cidades medievais, o bom vinho, tudo isso somado à simpatia e simplicidade do povo faz do Trentino um lugar especial, mágico, esplendidamente belo e cativante.
Nos próximos textos contarei mais sobre detalhes da viagem e sobre essa região, principalmente sobre o seu profundo sentimento de preservação ambiental e patrimonial, a sua sincera e calorosa recepção aos descendentes dos imigrantes e dos emocionantes encontros que proporcionaram a eles, nas cidades de origem de seus antepassados.
Detalhes da viagem em http://amigosnaitalia2010.blogspot.com.

Publicado no Comércio do Jaú de 27-06-2010, quadro opinião

obs: belo resgate histórico Waldete, parabéns.