sexta-feira, 18 de março de 2011

Tombar, por Maria Waldete de Oliveira Cestari

texto publicado no jornal Comércio do Jahu, 18/03/2011, página 2, quadro opinião


Prédio na Saldanha Marinho que obteve autorização para demolição parcial (foto Julio Polli)

Sábado passado, o mesmo prédio, agora no chão (foto Julio Polli)


A língua portuguesa é riquíssima; seu vocabulário é vasto e um grande número de palavras possui vários significados, permitindo seu uso em contextos diferentes, às vezes com sentidos completamente opostos. Um exemplo bem característico disso é o verbo tombar. 
Segundo Aurélio, o dicionarista, a palavra tombar pode significar deitar ao chão, fazer cair, derribar, cair ao chão, descair, descer, baixar, cair para o lado, mudar de rumo (1), em frases como: O tsunami tombou centenas de prédios ou os guerreiros tombaram durante a batalha ou ainda o bêbado vinha tombando ao sair do bar. Depois pode significar arrolar, inventariar, registrar (2) – como em: o pesquisador tombou as histórias folclóricas da região – e por último colocar, o Estado, sob sua guarda, para conservar e proteger, bens móveis e imóveis, cuja conservação e proteção sejam do interesse público por seu valor arqueológico, ou etnográfico, ou bibliográfico, ou artístico, ou histórico (3) como em: a prefeitura tombou os prédios do patrimônio arquitetônico da cidade. Mas muitas pessoas não conhecem a terceira lista de significados seja por falta de interesse, de cidadania ou de educação. 
Os vândalos entram nesse rol e são exímios em tombamentos. Essas “adoráveis” criaturas são verdadeiros tsunamis a degradar o bem público e particular. Tombam mudas de árvores plantadas em avenidas, lixeiras no centro da cidade, postes e placas de sinalização de trânsito, vidros do Centro Comunitário do São Crispim, vestiários do ginásio de esportes de Potunduva, luminárias da Praça da República. No final de semana passada, tombaram nessa praça o monumento em homenagem à Revolução Constitucionalista de 1932. Isso sem contar que tombaram todas as expectativas de muitos jauenses de passarem momentos agradáveis, ouvindo música de qualidade no coreto devido à tremenda baderna que fizeram na praça e na Major Prado, embalada por “músicas” em volume altíssimo, em flagrante desrespeito aos moradores dos prédios e aos funcionários dos estabelecimentos do entorno, e aos freqüentadores da retreta da Banda Carlos Gomes. Pergunta-se: cadê a fiscalização?       Há alguns dias, na Rua Saldanha Marinho, um casarão construído no século passado, considerado imóvel histórico, portanto, tombado (no sentido 3) foi tombado (no sentido 1) e removido pelo seu proprietário, com autorização da Prefeitura. Isso gerou, principalmente na internet, uma onda de protestos de cidadãos que não se conformam com a demolição e indagam quem a autorizou e se os trâmites legais foram seguidos, ou seja, se houve reunião dos membros do Conppac (Conselho de Preservação do Patrimônio Arquitetônico e Cultural de Jahu), que tem entre suas funções analisar os pedidos de demolição ou alteração de fachada, observando a lei que foi criada e aprovada pelo Legislativo. Nada mais legítima essa preocupação, pois mais um imóvel histórico foi para o chão. 
As mais recentes discussões oficiais sobre tombar (3) datam de maio de 2009, portanto no início da atual administração. De acordo com reportagem do Comércio, a Câmara Municipal discutiu a reavaliação do número de prédios de interesse histórico e cultural, a partir de um requerimento do vereador José Segura Ruiz. A lista continha 553 prédios passíveis de preservação (será que todos ainda estão de pé? Oficialmente um já foi pro beleléu), sendo que 15 não podem ser modificados, 178 podem ter mudanças interiores, 277 precisam manter a fachada, 53 podem ter alterações também na fachada e outros 30 não foram identificados. Na época o prefeito prometeu encaminhar o requerimento. Encaminhou? Atualmente como andam as coisas nesse sentido? Algo foi modificado? Os imóveis preservados continuam os mesmos? Como o Executivo e o Legislativo trataram o assunto durante estes dois anos, o que foi decido, como, por que, quando ou continua tudo como antes?  O povo quer saber.
A mão forte das autoridades coibindo a degradação dos bens públicos e particulares com aplicação de punições exemplares aos que os tombam (1); a conscientização da população quanto à importância da conservação do patrimônio histórico de Jaú e a adoção pelo poder público de políticas de incentivo ao restauro dos edifícios tombados (3), oferecendo aos seus proprietários benefícios que os estimulem - tudo isso somado trará benefícios à cidade, seus habitantes e às próximas gerações. A história agradece, pois uma cidade sem memória é uma cidade sem futuro. 


Fachada de prédio tem de ser reconstituída


matéria publicada no Comércio do Jahu de 17/03/2011

Paulo Roberto Cruz
paulocruz@comerciodojahu.com.br

A fachada do prédio histórico localizado no número 447 da Rua Saldanha Marinho, em Jaú, demolida nos dias 11 e 12 de março, terá de ser reconstituída com os detalhes originais. A informação é do secretário de Planejamento e Obras de Jaú, Francisco Antonio Marcolan. Projeto para demolição do imóvel, requisitado pelos proprietários e aprovado em fevereiro de 2010 pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Jahu (Conppac) determina a recomposição da estrutura.
Construído em 1922, o prédio estava incluído no grau 3 de preservação (veja quadro), que exige a manutenção da fachada com possibilidade de alterações no restante da estrutura. A demolição foi autorizada porque as paredes tinham infiltrações e ameaçavam cair, conforme laudo da Secretaria de Obras.
Em julho de 2009, o Comércio mostrou que havia perigo a pedestres por causa do risco de queda da fachada, em avançado estado de deterioração. Ontem, o proprietário do edifício, Reginaldo Aparecido Cabrioli, 41 anos, foi procurado, mas não quis falar sobre o assunto.
O secretário Marcolan diz que vai se reunir com Cabrioli para definir prazo para que a reconstrução seja iniciada. Não existe exigência legal para que a obra ocorra, porém, a intenção é delimitar prazo.
“Não vamos exigir uma data específica para que a fachada seja restaurada, mas é importante que o proprietário saiba que vamos estar atentos ao trabalho. Ele já possui o projeto de restauração e vamos cobrar que seja seguido da forma como foi aprovado pelo conselho (Conppac)”, afirma Marcolan.

Discussão

Há em Jaú cerca de 490 imóveis de interesse histórico ou arquitetônico, conforme cadastro do Departamento de Preservação do Patrimônio Histórico da Secretaria de Cultura e Turismo de Jaú. Mais de 50% desses prédios estão incluídos nos graus 2 e 3 de preservação (veja quadro), o que impede que sejam totalmente demolidos.
Desde 2007 a Câmara debate a possibilidade de rever o número de casarões e outros imóveis que constam do cadastro. Em agosto de 2007 foi criada comissão de vereadores para realizar avaliação de cada prédio, mas o trabalho não progrediu.
Em maio de 2009, o tema voltou ao debate no Legislativo, quando foi aprovado requerimento, do vereador José Segura Ruiz (PTB), com pedido para revisão dos graus de preservação. Novamente, o tema não prosperou.
O diretor do Departamento de Preservação do Patrimônio Histórico, Ricardo Dal’Bó, afirma que não se deve discutir quantos imóveis são preserváveis, mas o que faz que tenham importância. “Mesmo casas simples, no Centro velho de Jaú, têm características, padrões estéticos importantes. Não concordo com a ideia de reduzir o número de prédios no cadastro.”



domingo, 13 de março de 2011

Cariocas visitam Jaú no carnaval 2011

Grupo Melhor Idade da capital fluminense escolhe Jaú para brincar o carnaval 2011. 



Parece algo inacreditável pensar que cariocas pudessem visitar nossa cidade para apreciar nosso carnaval mas isso ocorreu em Jaú e neste ano. Durante os dias 6, 7 e 8 de março tive o prazer e a honra de guiar 46 pessoas da cidade maravilhosa (um grupo da Melhor Idade na sua maioria) em visitas à Barra Bonita, Brotas e claro nossa querida Jaú. Foi minha primeira grande experiência como guia turístico na região já que estou habituado a fazer trabalhos internos (principalmente a Matriz e o Cemitério), mesmo assim aceitei o desafio e o que se segue agora é uma pequena narrativa das minhas experiências e das muitas alegrias que vivemos juntos nestes poucos dias. 

Primeiro desafio: Chuva

Não foi fácil conciliar os passeios previstos com a chuva que não dava trégua. No dia 5 eles visitaram  Ibitinga - a capital do Bordado - sobre forte chuva. Não desanimaram e fizeram compras. Cheguei no Hotel Realce onde estavam hospedados já no início da noite para conhece-los pessoalmente e leva-los para o desfile de Carnaval no Centro Histórico. Quando nos achávamos na recepção do hotel para o embarque foi noticiado no TEM Notícias que o desfile fora adiado para a segunda feira. Restou-nos um passeio de reconhecimento de onde seria o carnaval. Por fim, não choveu naquela noite. 

Dia 6, Domingo - Barra Bonita


Saímos pela manhã para conhecer os atrativos turísticos da Barra Bonita. O Rio Tietê encantou aqueles que tinham uma imagem negativa (poluição principalmente). Visão esta construída segundo relatos deles através dos noticiários sensacionalistas como os "Datenas da vida" que mostram o Rio Tietê ao fundo nos telejornais sempre sujo, reto, feio e transbordando. Logicamente isso é conseqüência da maneira que eles tratam o Rio Tietê lá, aqui é diferente. 
Primeira parada o Museu Municipal Luiz Saffi onde fomos muito bem recebidos pela diretora Janaina Cescato que em breves mas objetivas explanações contou-nos a História da sua cidade. 


Após o Museu tivemos o tempo livre onde alguns puderam conhecer a famosa feirinha de artesanato. Outros aproveitaram para fazerem passeios de bonde e é claro ao som das marchinhas.


Almoçamos e as 14:30 embarcamos no navio San Marino do sempre alegre e competente  Capitão Hélio Palmesan. Entre piadas de sogra, Histórias, dados geográficos e marchinhas (alem de um pouco de garoa) fizemos nosso carnaval. Não preciso dizer que só deu "nos", como diria "ficou pequeno" aquele barco para tanta animação.


Por sorte do guia carioca Gustavo Sá não tenho registro fotográfico da sua performace imitando o Sidnei Magal que alguns chamaram injustamente de "Sidnei Mingau".


Dia 7, Segunda-Feira - Jaú e Brotas

Começamos a manhã do dia 7 com um city tour pelo centro histórico de Jaú. Nossa primeira parada foi em nosso maior cartão postal, a Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio.


Segundo desafio - falta de infraestrutura para receber os turistas no centro histórico

Foi difícil achar uma vaga para estacionar o ônibus, os banheiros públicos ficavam distante e não havia uma lembrancinha sequer que pudesse ser adquirida com o nome de Jaú. Atenção empresários, vamos investir nisso, camisetas, bonés, chaveiros, etc.


Por grande sorte o Sr. Ítalo Poli Junior estava passando no local justo no momento em que falava sobre a restauração da nossa Matriz. Seu Ítalo é o presidente da comissão de restauro da Matriz e jauense atuante na cultura local (além de ser primo deste que vos escreve, para meu orgulho). Com muita simpatia que lhe é peculiar presentiou o grupo com um CD sobre a História do nosso herói nacional João Ribeiro de Barros.


 Explicações sobre a arquitetura eclética da Matriz chamou a atenção dos cariocas assim como a breve História da fundação da cidade em 1853.


Dentro da Matriz explicações sobre as pinturas. Alguns aproveitaram o clima de adoração ao Santíssimo para orarem.


Encantados com o nosso comércio alguns preferiram fazer compras e este simpático grupo ficou aos meus cuidados na centenária Praça da República.

Almoço


Almoçamos muito bem no Restaurante Gulana. Antes porem cometi uma gafe. Com um guia de turismo da gestão anterior que mostrava o Gulana ao lado do Lago do Silvério dirigi o grupo até aquela localidade. Para minha surpresa não achei o restaurante, onde estaria o Gulana? O guia da excursão Gustavo telefonou então para o restaurante e o proprietário muito prestativo começou a ensinar-lhe o caminho. Como ele não entendia o caminho passou o celular para mim. Não sei o que deu na minha cabeça tão nervoso que estava com a situação (um guia perdido), ao invés de dizer meu nome, disse, "aqui é o jauense, o jauense", mas como minha mente estava blindada não consegui localizar as ruas foi quando o proprietário disse-me para ficarmos lá que ele iria nos buscar. Foi a deixa para a Paula (outra guia da excursão) pegar o microfone aos risos para anunciar que o guia estava perdido e que alguém iria nos socorrer. Coisas da vida. Ai pegou o jargão, qualquer coisinha falavam "sou jauense".

Incidente superado fomos para Brotas (onde ocorreria mais tarde outra gafe).

Tínhamos planejado ir primeiro no Cine São José, como a cidade estava cheia de pessoas e de carros estacionados não achamos onde parar e fomos descendo. O que seria nossa última parada foi a primeira pois descemos no Parque dos Saltos.


Apreciações feitas, muitas fotos depois, subimos para o Museu do Calhambeque.


Eu (Julio Polli) e os guias do Rio de Janeiro, Paula Lemos e Gustavo Sá


Senhor Daniel e esposa no Museu do Calhambeque - herança de Raniero Bressan (mais informações http://www.brotas.com.br/museudocalhambeque/ )

Se lembra quando falei que tinha uma nova gafe? Pois então começou após sair do Museu do Calhambeque. Nosso ônibus estava longe (na verdade nem sei onde estava) e na minha opinião sair dali e ir até o Cine São José não era tão longe como na verdade foi. Quase matei o povo de andar. Quando chegamos no Cine (já estávamos atrasados) alguém me chamou de canto para se queixar da logística. Realmente fiquei muito chateado com o ocorrido. A culpa era minha e não dos guias da excursão. Mea culpa admitida, conhecemos o majestoso cinema comprado e restaurado pelo cantor Daniel.


Logo após o Cine São José, fomos de ÔNIBUS até a Casa da Cachaça. Eta...

Dia 8, Terça-Feira - Carnaval em Jaú

Com o adiamento do desfile carnavalesco para a segunda e as chuvas que não davam trégua, infelizmente o grupo não pode apreciar aquilo que vieram ver em Jaú, um carnaval tradicional.  Aliás fruto do trabalho de André Galvão de França frente a Secretaria de Cultura e Turísmo. Foi por causa dos carnavais de 2009 e 2010 que esse grupo escolheu Jaú para sua estadia no carnaval.
Pela manhã o tempo foi livre. Alguns escolheram descer até o centro da cidade e outros acompanharam-me para um passeio de Arte Cemiterial.


Fomos almoçar (dessa vez consegui chegar no Gulana sem errar) e após seguimos para a Matinê no Caiçara Clube.


Olha a animação do grupo antes de entrar no Caiçara.


Até eu cai na gandaia. Creio que fazia mais de sete anos que não participava de carnaval algum.

Apesar de parecer um macarrão pulando como comentou um amigo, cai na folia com o povo carioca. Havia apenas um inconveniente, toda vez que era anunciado que estava presente um povo do Rio de Janeiro, acredito que os sócios do Caiçara ao olharem para minha pessoa  pensavam "aquele carioca ali esta meio diferente".
Por fim os cariocas contagiaram os jauenses que ao meu ver divertiram-se muito com a animação desta trupe e eu ali pensando se tudo aquilo era real pois estava pulando carnaval (uma festa que tanto detestei) com uma galera super animada do Rio de Janeiro em Jaú! Se você não vai ao Rio de Janeiro, o Rio de Janeiro vai até você.

O carnaval se foi... e se foram meus amigos. Sou uma pessoa privilegiada por conhecer gente tão bacana e cheia de vida. Monstrou-me o quando o povo do Rio de Janeiro é carismático, simpático e acolhedor. O Rio de Janeiro é realmente a "Cidade Maravilhosa" nem tanto pela sua beleza mas principalmente por sua gente.

A vocês da GP Turismo (Gustavo e Paula) meu sincero e profundo agradecimento. Até a próxima. Assinado - Jauense.